Siglos y siglos

Amar as avós
pelos pudins de leite e o afeto irrestrito
que frequentemente faltou aos filhos
liberadas agora dos dons imperativos, 
valorizar as avós em sua autonomia 
e na capacidade de voltar a se apaixonar 
pelo nascimento dos netos
tendo tão perto o medo da morte.

Amar as avós 
como viajantes do tempo
ancestrales encarnadas em carne viva 
carregando há noventa anos muitos séculos
de olhar continuamente estendido sobre o mundo 
um filme futurista de trás para frente 
as avós são o futuro do pretérito do presente
vêm de longe para contar sobre o que persiste


Entre camadas e camadas de coincidências
o namoro com meu avô nas varandas de livramento
o anúncio da segunda guerra na estação de rádio
as amigas que ainda moram no edifício ao lado
e os olvidos
meu nome, o nome dos meus pais
na mais antiga das pronúncias 
o nomear de quem funda, fundamenta
e alimenta e cuida
ainda que se esqueça.

Por escolha ou por destino, quem dirá,
ainda não sou mamá
mas tenho vontade de dar nome agora
a essa criança 
fundar um nascimento futuro 
e contá-lo às minhas avós
burlando o tempo, invertendo o ciclo
fazer das abuelas existências utópicas
um passsado-futuro espiral da memória 
onde não apenas me lembrarei delas,
mas poderei dizer ao meu filho ou filha
que Havany e Maria 
pronunciaram seu nome 
como uma profecia.

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