Conversas íntimas
Durante a sessão de análise dessa semana eu falei bastante de culpa. O sentimento de culpa deve ser meu sintoma mais recorrente. Falava, em concreto, da culpa de não poder dedicar todo o tempo que gostaria às minhas relações mais próximas, que para isso algumas linhas de mensagem de texto não bastam. Não sinto que me entreguei o suficiente, que escutei o suficiente, que estive presente para elas. Isso demanda tempo e escuta ativa, às vezes vinho e madrugadas adentro, um desligar-se do fluxo incessante dos acontecimentos e focar na particularidade daquela outra vida com quem a minha se conecta. Me ressentia do quanto esse tempo da partilha ficava reduzido às horas vagas, às noites pós-trabalho e aos raros fins de semana sem pesquisa de Doutorado. E cheguei à conclusão, depois de bastante culpa e a volta por cima da responsabilização, que a poesia também nasce dessa necessidade de entrega, porque me permite conversar intimamente com várias outras vidas num mesmo instante. Pode ser só um truque do inconsciente para apaziguar o superego, porque definitivamente não substitui as horas de partilha frente a frente. Mas é também uma entrega completa que supera tempo e culpa. Uma conversa íntima com todas as vidas que me tocam e que, por isso, pede para ser lida, compartilhada.
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