Flora
são rios no rosto de minha vó, não vês? eu bebo com sede, pressa e pés descalços, bebo saudade em cada esquina de ruga, bebo almoços de família um pouco embaçados atrás dos olhos, bebo água corrente direto da fonte, às vezes fria, sempre doce, bebo infância na casa rosa do bairro Partenon e joelhos esfolados, bebo lomba e patins, palavras cruzadas e jogo de cartas, bebo livros encapados com papel de presente, doces proibidos no café da tarde, e algum gosto amargo de nascença, e minha mãe, vó nossa de cada dia, fronteira aberta e corredeira, a gente bebe do teu rosto o sentido do tempo, e por isso enquanto te despedes aos poucos, esperando de uma vez ser só silêncio, vó, não morres, persistes nascendo.
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